Confeccionada por Severino Pinto, vulgo Severino Marreteiro, que era operário da Fábrica de Sabão Santa Rita, em Santa Cruz do Inharé/RN, nos anos 50.
A fábrica pertencia a João Batista de Medeiros, conhecido como João de GAM, primo do Desembargador Lourival de Medeiros.
Severino, não podendo pagar a um Dentista, e como era adversário político do Dentista Jácio Fiúza, resolveu fazer, ele próprio sua prótese.
Inicialmente, fez a moldagem da boca com sabão da fábrica onde trabalhava e vazou o modelo em cimento preto para construção.
Conseguiu uma bola de bilhar inservível para o jogo, e abriu-a no meio.
Usando um dos hemisférios, começou a esculpir à noite, olhando cuidadosamente a dentadura que a sogra lhe emprestava.
As ferramentas usadas eram apenas: um canivete, uma lima triangular velha e uma lixa.
Quando a prótese já estava quase pronta, ocorreu uma fratura, e ele teve de recomeçar tudo, agora usando o outro hemisfério da antiga bola de bilhar.
Tomando mais cuidado, especialmente no final para evitar nova fratura, conseguiu terminar. No final, observou que havia esculpido 05 (cinco) incisivos, mas deixou assim mesmo…
Severino usou a prótese por 12 (doze) anos seguidos, e estava muito satisfeito.
De passagem por Santa Cruz com destino a Caicó, o Prof. Clemente Galvão Neto e seu irmão, Luiz Carlos Abbott Galvão, então Protético do Laboratório Galvão e seu gerente, o jipe em que viajavam foi avariado.
Para esperar o conserto do veículo, hospedaram-se todos na casa do então Deputado Federal Aluízio Bezerra.
Quando Jácio visitou o grupo, contou a história da dentadura de bola de bilhar, o que despertou enorme curiosidade.
Severino “Marreteiro” foi chamado e examinado.
Então, Clemente fez-lhe a proposta: – Seria confeccionada para Severino uma dentadura dupla moderna, fornecida pelo Laboratório Galvão, e clinicamente executada por Jácio.
Severino relutou um pouco, mas terminou acertando o negócio, quando entregaria sua prótese em troca de outra, dupla.
Foi tudo providenciado imediatamente e concluída a dentadura dupla, totalmente sem ônus para Severino, com a colaboração de Jácio e as despesas da confecção patrocinadas pelo Laboratório Galvão.
Pronta a prótese, depois de diversas provas, chegou o dia de sua colocação e, consequentemente, a entrega da antiga.
Tudo concluído, verificados o funcionamento e a estética, Jácio recordou o negócio acertado muitos dias antes.
Severino, meio desconfiado, pensou muito e finalmente disse:
– Vou entregar porque dei a minha palavra e não volto atrás, mas, sinceramente, a minha é melhor!
Entregou a peça, que já andou pelo mundo, foi filmada e fotografada.
Passaram-se muitos anos sem que soubéssemos onde se encontrava, pois Solon Galvão Filho, que fora Professor de Prótese da UFRN, e que a tivera sob sua guarda, pensava tê-la deixado na Suécia.
Clemente queixou-se disso a Helson José de Paiva, Professor de Oclusão da UFRN, quando este anunciou:
– Está comigo e vou entregá-la agora mesmo para o Museu Solon de Miranda Galvão.
Hoje, pois, a Dentadura feita de uma bola de bilhar nas condições descritas é, com certeza, raríssima e, quem sabe, a única na história da Odontologia.
Pertence ao acervo do Museu de Odontologia Solon de Miranda Galvão, da Academia Norte-Rio-Grandense de Odontologia, como uma de suas peças mais valiosas.
Em 05 de abril de 2018, Adão Alves Nunes, filho de Severino Marreteiro – o homem que confeccionou a valiosa peça – esteve na Academia e visitou o Museu rapidamente.
Estava ansioso para ver a criação do pai, pois quando a Dentadura foi esculpida ele ainda não havia nascido. Ficou visivelmente emocionado!
Foi um momento mágico em que não cabia registro fotográfico.
Infelizmente, Severino Marreteiro é falecido desde 2001.
(*) – Adaptado e atualizado com base no artigo do Prof. Dr. Clemente Galvão Neto – Diretor e Fundador do Museu.
– Em Memória –