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Perfil Acadêmico

Doutor Clemente Galvão Neto, ícone da Odontologia Potiguar e Nacional.

Para familiares, amigos e colegas de profissão, um homem admirável e um exemplo a ser seguido.

Para os entusiasmados visitantes do Museu Dr. Solon de Miranda Galvão, Dr. Clemente é “o cara”

Tive a honra bem como o privilégio de conhecer e conviver com Dr. Clemente. Meu “tio” por afinidade, pois considerava ao meu pai, Gilberto, como seu irmão. Contudo, nunca ousei chamá-lo de tio. Achava desrespeitoso tratar com tanta intimidade alguém que admirava – e sigo admirando – muito!

Foi pelas mãos dele e da minha estimada madrinha, Dra. Yara Silva, que ingressei na Academia Norte-Rio-Grandense de Odontologia, e aqui sigo, há 16 anos, dando o meu melhor, tal qual Dr. Clemente e meu pai me ensinaram.

Há muito o que falar, lembrar e compartilhar sobre este grande homem. Mas confesso: não há alguém melhor para falar sobre o “doutor” do que ele mesmo.

O texto a seguir foi escrito por Dr. Clemente como parte de suas memórias. Livro que gostaria de ter escrito e compartilhado com todos, mas suas múltiplas tarefas e compromissos não lhe davam tempo suficiente. Então, sempre que escrevia algo trazia para que eu digitasse. Assim o fiz. Sem mais delongas, conheçam e reconheçam Doutor Clemente por suas próprias palavras.

Suely Martins, Secretária Executiva desde 1º de agosto de 2006.

A Vida Profissional de Clemente Galvão Neto

Clemente Galvão Neto, nascido prematuramente, em 1º de agosto de 1924, no bairro do Tirol, na casa de propriedade do célebre Joca do Pará, em frente ao Estádio Juvenal Lamartine, na época, campo da ARA.

Recebeu o nome do avô paterno que nascera em 23 de novembro, dia de São Clemente e morrera em 30 de julho, sendo sepultado no dia seguinte.

Descendente, pelo lado paterno, dos Galvão, do Seridó, e dos Miranda Henriques, estes descendentes de Francisco Xavier de Miranda Henriques, que governara as províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Pelo lado materno, descendia dos Abbott, oriundos do Conselheiro Dr. Jonathas Abbott, inglês radicado na Bahia, e dos Flores, oriundos dos casais açorianos que vieram para o Rio Grande do Sul, e diretamente do Dr. Flores, médico e político gaúcho deles descendente.Clemente foi alfabetizado pelos irmãos Maristas, a partir de 1931, onde estudou até concluir o ginásio, em 1939.A essa altura, a antiga firma C. Galvão & Cia, que sofrera grandes prejuízos em função da seca e do saque comunista de 1935, já se transformara em Casa Galvão, tendo Clemente assumido o escritório e a contabilidade da firma, aos 14 anos de idade, e aguardava uma oportunidade de continuar os estudos para fazer Engenharia, que era o seu sonho, e para o que se preparava desde tenra idade.

Impossibilitado de continuar aquilo que não fora o seu sonho de vida, 20 anos depois, seu pai resolveu vender a firma e voltar à sua Odontologia.

Vendida a firma para pagar os débitos existentes, seu Pai, viajou para o Rio, a fim de se atualizar com o fruto da venda da casa da Av. Rio Branco, seu último imóvel, ele comprou um moderno consultório e voltou para Natal.Aí começou a transformação radical na vida dele.  Acompanhando a montagem do consultório, e depois ajudando ao pai, aprendeu a fazer Prótese e se dedicou à Odontologia que orientou sua vida daí para frente.  Foi para o Rio de Janeiro, onde sua mãe se encontrava à procura de emprego para ele poder continuar os estudos, após servir ao Exército em 1941. Trabalhou como datilógrafo no Departamento Nacional do Café, onde ganhava CR$ 570,00 mensais, enquanto o seu pai pagava ao protético CR$ 900,00.

Voltando para Natal, transferiu-se para Recife, a fim de fazer o 2º Pré-Médico, pois fizera o primeiro no Rio, no Colégio Santo Inácio, dos Jesuítas.  Além de vir mensalmente a Natal, onde assumira a Prótese de seu pai, em Recife conseguiu a colocação com um antigo protético e comerciante, Joaquim Barros, para quem trouxera recomendação da tia da sua esposa, mãe de um grande amigo do Rio.Concluindo o 2º ano científico no Colégio Osvaldo Cruz, submeteu-se ao vestibular de Odontologia, obtendo aprovação.  Na Faculdade, conheceu e fez amizade com um colega, que já cursava o 2º ano e também era filho do Dentista de Alagoas, Dr. Hipólito Lopes. Imediatamente, fizeram amizade e alugaram um consultório com laboratório, e começaram a trabalhar, tanto com Prótese como em Clínica.          No ano seguinte, já faziam Prótese para vários professores da Faculdade, além de terem uma boa clientela no consultório.Nessa altura, mudou-se para o Rio um antigo Dentista do Recife, transferido para o IPASE, tendo vendido seu consultório, localizado no “arranha-céu” da pracinha do Diário, muito bem montado com equipamento americano, que foi adquirido por um colega de Mário Filho do dono de uma cadeia de farmácias em Pernambuco.  Esse colega convidou Mário e Clemente para usarem o consultório, passando a eles os ensinamentos necessários. Vale salientar que esse colega nunca lá apareceu, então assumiram o consultório integralmente até a formatura, fazendo Clínica e Prótese, inclusive para vários professores de Faculdade.Por ocasião da conclusão do curso, Mário, já formado, foi convidado para lecionar na Cadeira de Prótese, pelo Professor Pinto de Campos, amigo e cliente dos dois.  No final do curso, Clemente foi convidado pelo professor Carlos Marinho, professor de Técnica Odontológica para ser seu assistente, comunicando que, pela primeira vez, estaria convidando um recém-formado para assistente. Clemente agradeceu penhorado, e lhe explicou que faria Engenharia, tendo mudado de ideia para ajudar a seu pai, a quem adorava, e sentia que lhe seria útil. Lamentavelmente, seu pai faleceu em maio de 1949.  Concluído o Curso, voltou para Natal e logo assumiu uma Diretoria da A.B.O, antiga Associação Odontológica, e foi nomeado também Professor da Faculdade de Odontologia naquele ano criada, sendo, portanto, dela fundador.Afastado posteriormente, por motivo de doença, retornou finalmente para a Cadeira de Cirurgia, quando se tornou fundador, também da Universidade.  Na mudança da Faculdade para o novo prédio, com a ajuda de seu amigo e cliente, então Reitor Onofre Lopes, instalou o Departamento de Cirurgia com equipamento moderno.Sem que nunca tivesse pleiteado o cargo, compôs por duas vezes a lista sêxtupla para Reitor, somente para respaldar seus candidatos que compunham a lista em primeiro lugar, sendo que da última vez não resultou o combinado, motivo pelo qual, requereu aposentadoria e se afastou em definitivo.Foi fundador do Conselho Regional de Odontologia, onde trabalhou por mais de 20 anos, 12 dos quais como Vice-Presidente, tendo dado assistência às 27 Regionais e instalado algumas delas.  Foi fundador da Academia Norte-Rio-Grandense de Odontologia e Diretor Vitalício do Museu Dr. Solon de Miranda Galvão, sendo também membro da Academia Brasileira de Odontologia e da Academia Paraibana de Odontologia.  Com graves problemas de saúde, se viu obrigado a reduzir suas atividades, porém, sem que delas se afastasse completamente, a despeito dos seus 85 anos.É impossível dissociar Doutor Clemente da Academia e do Museu, suas duas grandes paixões.

A seguir, uma entrevista por ele concedida à Revista Brasileira de Odontologia, com o título: Na trilha dos museus odontológicos, e que pode ser lida na íntegra no volume 63 – n.ºs 01 e 02 – ano 2006.

QUANDO FOI CONSTRUÍDO O MUSEU?  

Dr. Clemente: O Museu foi criado no início dos anos 50, em homenagem ao meu pai, Dr. Solon de Miranda Galvão, primeiro Norte-Rio-Grandense a se formar em Odontologia, em 1910, no Rio de Janeiro, e falecido aos 59 anos, em 18.05.1949. O Museu se encontra na atual sede da Academia, desde novembro de 1999, quando foi inaugurado o prédio próprio e da qual é parte integrante, ocupando todo o andar superior.

FALE UM POUCO DO ACERVO: QUAL A PEÇA QUE DESTACARIA E POR QUAL MOTIVO?

Dr. Clemente: Dentre as peças do museu, podemos destacar, como única no mundo, uma dentadura superior feita de uma bola de bilhar, por um operário de fábrica de sabão, cuja história já foi publicada no boletim do Museu da ABO-RJ, há alguns anos.

QUAL O PAPEL QUE O MUSEU DE ODONTOLOGIA DESEMPENHA NOS DIAS DE HOJE?

Dr. Clemente: O principal papel do Museu tem sido o de informar como foi a Odontologia no passado, e mostrar sua comparação com a Odontologia do presente. Isso tem sido periodicamente demonstrado, na prática, com as visitas dos estudantes de Odontologia de nossas faculdades, sempre acompanhados de seus professores.

DE QUANTAS PEÇAS SE COMPÕE SEU ACERVO?

Dr. Clemente: O número de peças do Museu foi calculado, há cerca de 02 anos, por um técnico da Fundação José Augusto (governo do RN) em 17.000. Somente agora, após a elaboração de um sistema informatizado específico, está sendo feito um levantamento preciso com a listagem de todas as peças, levantamento este, por nós, eu como diretor vitalício e a Professora Yara Silva, Diretora Adjunta.

Somente após a conclusão deste trabalho, que levará ainda alguns meses, saberemos o número real de peças, além de todas as suas especificações e usos determinados.

COMO DEVE SER MONTADO O MUSEU? DEVE-SE DAR DESTAQUE A QUAIS TIPOS DE PEÇA?

Dr. Clemente: Acreditamos que, na dependência do espaço disponível, todas as peças deverão ser expostas, informadas suas funções e origens, além da época em que surgiram. 

SEU MUSEU REALIZA, PERIODICAMENTE, EXPOSIÇÕES?

Dr. Clemente: Nosso Museu está sempre disponível para visitações, desde que agendadas, por causa da inexistência de funcionários, o que nos obriga a acompanhar, e o fazemos com o maior prazer, especialmente agora, que dispomos de um sistema de ar-condicionado em todo o ambiente.

COMO SÃO FEITAS A CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MUSEU?

Dr. Clemente: A conservação e a preservação do Museu são feitas por nós mesmos, Diretores.

Para isso, dispomos, em nossa instalação, de uma oficina para reparo das peças que, de um modo geral, nos são ofertadas em mau estado de conservação, precisando, portanto, de reparos e/ou pinturas.

Doutor Clemente faleceu em 24.11.2010, aos 86 anos.

Deixou saudades e uma lacuna na Odontologia.

Também deixou um legado incontestável, através de seu exemplo de dedicação, disciplina, nobreza e amor por tudo o que fazia, tanto na vida pessoal como na profissional.

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